sexta-feira, 25 de junho de 2010

Vestir-se livremente

Acabou o tempo da ditadura da moda. É só assistir aos desfiles das temporadas fashion para saber que cada um pode se vestir como achar melhor. Mas olhando para o cotidiano me pergunto: será que acabou mesmo?
A Márcia Tiburi escreveu em seu blog sobre sua experiência como Creuza por um dia, quando participou da performance do grupo Creuza no Teatro da Galeria Olido em São Paulo. Referindo-se a improvisação que o grupo realiza no palco a autora referiu-se aos seus intérpretes como sendo “criatividades livres” e esclareceu: “sim, existem criatividades que não são.” É uma verdade que me impactou e que auxilia a realizar uma melhor análise de atividades consideradas criativas. No caso da moda, existe a que é criatividade livre e a que não é? Sem dúvida. É um setor em que há muita pressão por vendas e a dança das cadeiras nas grandes maisons é prova de que o olhar do investidor está mais voltado para os documentos contabilísticos do que para a coleção do estilista, propriamente dita.
E a moda que usamos no dia-a-dia, será que “criatividade livre” cabe nessa equação? Acredito que manuais de ensinamentos do bem-vestir de certa forma se sobrepõem à criatividade, mesmo aquela admirada na passarela. Bem-vestir é uma coisa, usar as roupas com criatividade é outra. Bem que temos vontade de usar um look muito louco, importado diretamente da passarela, ainda que não seja possível a gente pegar um ônibus, do ponto de vista prático, vestida daquela forma. E ainda que a gente consiga chegar ao trabalho a pé ou de carro, em muitos ambientes não seremos bem recebidas seja com o outfit copiado da passarela, seja com o inventado de noite a tesouradas, no quarto. Locais de trabalho são espaços de criatividade controlada.
Okay, entendo. Mas e fora do labor, será que é preciso vestir-se sempre bem, mais ou menos de acordo com a moda? O problema, na minha humilde opinião, do “vestir-se bem” e “adequadamente” é que isso restringe um bocado a criatividade. Então seria bacana se as pessoas tivessem espaço em suas vidas para exercer o vestir-se de acordo com sua vontade livre, sem preocupação com o que o olhar alheio classifica como “bem”. Mesmo que isso signifique moletom e cabelo desgrenhado para a elegantérrima caixa do banco ou saris roxos da cabeça aos pés para a moça que mede pouco mais de um metro e meio.
Como em tudo na vida, é mais fácil falar do que fazer. Mas admitamos que para nós, mulheres, a preocupação com a aparência é excessivamente orientada para um olhar externo, o gozo está menos no uso criativo das vestimentas e mais no reconhecimento de terceiros de que estamos “bem vestidas” de acordo com a opinião geral do que é considerado bonito. O resultado é que acaba ficando todo mundo mais ou menos igual. Então fica a pergunta, qual será o espaço para a criatividade livre no vestir, em nossas vidas? Festa à fantasia, alguém topa?

Para visitar o blog da Marcia Tiburi (Pink Punk): http://colunas.gnt.globo.com/pinkpunk/