quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Um exército de branco

Uma amiga me chamou a atenção para a declaração de uma famosa apresentadora de televisão na capa de uma revista de celebridades. A frase era: “Depois que fui mãe entendi porque vim ao mundo.” Ficamos pensativas. É que não dava para ignorar o ato falho e olha que nós não precisamos incorporar o pai da psicanálise para percebê-lo. A moça em questão, que aparece em foto posadinha (como devem ser todas as fotos comerciais, compreendo) com o filho – na qual os rostos nem se tocam – já foi mãe. A tarefa dela já acabou. Engravidou, gestou e pariu, o que, convenhamos, não é pouco em termos de experiência de vida e de doação. Agora, acredito eu, deve haver profissionais de gabarito contratadas para cuidar do pequenote e assegurar que a vida dele vá em frente. Essa mãe pagará por todas essas despesas o que também, reconheço, não é pouco, materialmente falando. Materialmente.

Há um exército de branco em marcha nas classes médias e nas classes altas do país. São as babás, que vão desde as que moram nas residências, as que passam o dia ou a noite junto da criança, as que trabalham em sistema de revezamento e as absolutamente desconhecidas, cujo trabalho é oferecido em resorts para que o casal que viajou sem sua babá possa receber o merecido descanso. É um serviço que não tem preço. Ou tem e baixo em muitas ocasiões, embora, se pararmos para pensar, substituir uma mãe seja algo de absolutamente precioso. Desejo muito que as recrutas desse exército estejam devidamente preparadas para uma tarefa tão importante, que influi nos fundamentos da sociedade.

O que está sendo substituído não é o trocar de fraldas, não é o embalar para dormir, não é o dar banho ou dar papinha. O que as babás realizam vai muito além dessas tarefas embora esteja embutido na própria realização delas. É através do olhar e do toque de quem o cuida, da maneira mesmo como é manipulado e de como se conversa com ele que o bebê vai desenvolver seu psiquismo, ou seja, vai desenvolver o mais fundamental manacial de emoções ao qual recorrerá a vida inteira, nas mais diversas situações que enfrentar. Crianças mais velhas já o tem formado, mas todos sabemos o que comparações entre irmãos, palavras duras e escárnio, só para citar alguns exemplos, podem fazer no desenvolvimento de uma criança ou mesmo de um adolescente.

Seria bom que não houvesse um mercado tão grande para as celebridades que se parecem “gente como a gente”, só que melhorada. Gente que faz compras no supermercado, mas usando salto agulha. Gente que trabalha muito e se alimenta “corretamente”, por isso não adoece. Gente que dá à luz como você, leitora, mas que em menos de um mês depois está de volta à forma ou, quem sabe, em melhor forma! Esse produto que chamo “celebridade que você pode imitar” tem um preço alto e é invariavelmente fadado ao fracasso. Me recuso a comprar.

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Em tempo, não me apedrejem: não sou contra a recorrer à ajuda de babás na criação dos filhos. Especialmente em famílias pequenas, cada vez mais comuns. Sei que é preciso muita ajuda e aprendi um bocado ouvindo mulheres simples, mas sábias nos seus palpites e experiências.