sábado, 24 de dezembro de 2011

A merry little Christmas

Os dois Natais mais memoráveis que já passei como adulta não envolveram grandes festejos até porque, para ser sincera, o número de participantes era bem reduzido. No primeiro só havia eu. Eu, um copo de vinho, uma comida de minha preferência e música e televisão do meu agrado. Eu e uma enorme sensação de liberdade. Eu e um aconchego que construí para mim mesma, uma paz interior, a sensação de que estava no lugar certo, num momento bom, fazendo a coisa certa para mim.

No segundo Natal já éramos cinco. Dois humanos adultos, uma trochinha em meus braços, também conhecida como bebê, e dois cachorros. Uma família recém formada, sentada na sacada, no silêncio da noite (embora sempre haja a televisão ao fundo), observando a cidade. Mais uma vez senti uma grande paz interior, daquele tipo que te diz que você está fazendo a coisa certa e te conecta com o presente, eliminando mágoas do passado e anseios futuros. Não dura muitíssimo esse momento, essa conexão com você mesma e com o presente, logo o cérebro vagueia. Mas a sensação de felicidade permanece de tal forma que é sempre rememorada.

Há uma música em inglês, cantada pela Judy Garland em um musical dos anos quarenta e subsequentemente gravada por Frank Sinatra e muitos outros ótimos intérpretes chamada Have yourself a merry little Christmas, algo que poderíamos traduzir muito livremente como Tenha um feliz e pequeno Natal para você. A letra diz: tenha um feliz e pequeno Natal; Permita que seu coração esteja leve; Ano que vem todos os nossos problemas terão desaparecido. Trata-se de um pequeno e propositado autoengano, da escolha por um momento de felicidade que independe de estarmos rodeados de muitos amigos e familiares ou não, de estarmos bem vestidos em uma festa chiquérrima, de pijama em casa ou ainda no avião ou na estrada, sonhando com a chegada. Independe porque é uma construção interna e é no interior da gente que a paz pode ser verdadeiramente construída, antes de alçar asas para o mundo exterior.

Tendo crescido numa família numerosa, onde sempre nos reuníamos, enfeitávamos o pinheiro de Natal (alguém mais colocava algodão nas pontas dos galhos para imitar neve?) e fazíamos ceia, pode parecer estranho que me agrade um pequeno e feliz Natal, mas é esse que gostaria de desejar a você, leitor. Se você comunga de uma fé, desejo que em algum momento do seu Natal você possa encontrar-se sozinho com ela e que isso lhe traga grande harmonia. Se você não comunga de fé alguma, desejo que em algum momento do seu Natal você possa encontrar-se sozinho consigo e que isso lhe traga grande paz interior.

E desejo que todos tenham um grande, inusitado, tradicional, farto, simples, agitado, tranquilo, acompanhado ou só, pequeno e feliz Natal, que possa inclusive iluminar o ano que virá.