segunda-feira, 29 de março de 2010

Um futuro de pernas para o ar!

Há algumas semanas recomecei a Yoga. Toda dura. Não estou querendo dizer malhada, bonitona. É sem flexibilidade, mesmo. Não tão dura quando eu comecei pela primeira vez, há mais de três anos atrás, ocasião na qual descobri que havia me transformado no Pinocchio, o lendário boneco de madeira criado pelo solitário velhinho Geppetto, que acaba por tornar-se humano graças a Fada Azul. É impressionante o que a tensão pode fazer com a mente, refletida no corpo. Acho que é justo dizer que estava faltando um pedaço da minha humanidade, na época, pois o simples sentar na chamada “postura fácil” (que postura fácil?! eu me perguntava), me causava dor. A Yoga e a meditação foram minha Fada Azul em um importante momento de recuperação da saúde. Mas, sabe como é, assim que você melhora e vai se entregando à correria do dia-a-dia os cuidados com você mesma vão se tornando secundários.


Recomeços são meio complicados. Você pensa que está com a bola toda e... argh. Alô, dor. Alô corpo. Já faz tempo que não nos relacionávamos tão intimamente, hu? Entre paradas e retornos, o resultado é que meus pés e mãos ainda mantêm uma amistosa, mas relativamente grande, distância entre eles que eu bem gostaria de já ter ultrapassado. Respirando e relaxando a lombar, vou tentando aproximar minhas extremidades, ao mesmo tempo que procuro habitar melhor meu próprio corpo. Dentre as frases da professora, a que eu mais gosto é: “respeite seus limites”. Puxa vida, a gente deveria ouvir isso mais seguidamente no dia a dia. É tão mais comum interiorizarmos a idéia socialmente cultuada de ultrapassar nossos limites que até fiquei meio chocada a primeira vez que a ouvi dizer isso. Mas fiquei agradecida também, por saber que encontrara ali uma prática que não cultua o sofrimento, nem físico, nem mental. Acolhida em minhas dificuldades, vou respirando e relaxando.

Na minha turma há várias senhoras, com diferentes graus de habilidades físicas desenvolvidos. Algumas me parecem bem mais confortáveis do que eu com a prática, enquanto outras lutam contra o corpo enrijecido, procurando ajustar-se aqui e ali a posturas que demandam concentração e equilíbrio, bem regados a altas doses de oxigenação. É mais difícil na prática do que no papel. As senhoras parecem espelhos do meu amanhã. Admiro a todas elas. Todas estão ali, apegadas à vida, respirando profundamente, procurando fazer o seu melhor para consigo mesmas. Me pego perguntando como será meu futuro, que tipo de senhora serei. Onde estarão meus achaques? Nas pernas, nas costas, na nuca? Tornozelos inchados parecem ser quase uma certeza. Como me relacionarei com o envelhecimento inevitável? Observo-as, ansiosa por encontrar nessas outras mulheres, respostas sobre mim. Mas em seguida é hora de esvaziar a mente, fixar um ponto e concentrar-se dentro de si mesma, porque senão você cai no chão.

Há também as moças na casa dos vinte anos, em forma física invejável, do meu ponto de vista. Quando chega a hora da finalização lá se vão elas, a virar de pernas para cima, apoiando-se apenas nos braços e na ponta da cabeça. Essa posição, chamada “invertida”, ainda é um sonho para mim que me contento em apenas levantar as pernas, na “vela”. Olhando as moças penso: que tipo de velhice elas terão? Será que elas se preocupam com isso? Provavelmente não. Sou eu, na casa dos “enta” que passei a tentar visualizar um futuro que não está muito distante, agora.

Nessa hora juro que nunca mais vou parar a Yoga e junto todas as imagens que tenho à frente. Lá estou eu, uma senhora de idade, sim, mas graciosa e flexível, que ainda consegue se locomover bem sozinha. Mais do que isso, acredito que estarei em melhor forma física do que a que apresento agora e já me imagino fazendo a “invertida” no final das aulas, pernas para o ar, cabeça no chão. É meu ideal de futuro: Um dia eu ainda me viro de ponta a cabeça!