sexta-feira, 4 de junho de 2010

Aqui está uma tradução livre de minha parte. Trata-se de um excelente artigo do psicólogo norte-americano Michael Thompson, que concedeu a devida permissão para essa versão em português.



A CIVILIZAÇÃO EMPÁTICA: OS MENINOS SÃO A CHAVE PARA UM FUTURO DE EMPATIA

Michael Thompson, Ph. D.

Como psicólogo de crianças, está claro para mim que a rota mais rápida para uma civilização mais empática é fazer cessar o espancamento, o sarcasmo e outras formas de mágoa infligidas aos meninos quando eles são pequenos. Garotos oriundos de ambientes traumatizantes com pais brutais podem crescer para se tornarem tiranos e assassinos – pense em Adolf Hitler e Slobodan Milosevic da Sérvia – ao passo que aqueles que foram criados com apoio emocional certamente não o serão. Precisamos criar meninos amados e amáveis que têm a capacidade de crescer para se tornarem líderes empáticos e companheiros. Em todas as culturas, se queremos mudar o mundo rapidamente, nossa melhor opção é criar meninos emocionalmente alfabetizados que valorizam a compreensão. Pais e professores bem intencionados com freqüência me dizem que estão tentando criar homens “sensíveis” ou “não-violentos” que possam reconhecer seu lado “feminino” e que venham a crescer em condições de “respeitar as mulheres”. Contudo, esses esforços para criar garotos sensíveis podem ser contraproducentes. Quando perguntei a uma professora de segunda série o motivo de ela ter proibido as brincadeiras de luta durante o intervalo, bem como a chamada “escrita violenta” em sala de aula, ela me disse: “porque eu não quero que um dos meus meninos venha a se tornar presidente quando crescer e decida invadir o Iraque.” Compreendo o sentimento dela, mas seu ponto de vista é parcial e nada científico. As brincadeiras infantis não levam à violência do mundo adulto. Eu sei que os meninos na aula dela percebem que ela vê a eles e a sua escrita como sendo potencialmente perigosos. Isso não é bom para eles. Nós temos que compreender a maneira como os garotos aprendem. Eles são, em média, mais ativos fisicamente que as meninas, mais impulsivos e competitivos, mais interessados em escrever histórias de conflito e morte, mais propensos a trabalhar duro quando cercados por grupos de meninos. Abordagens punitivas na criação de meninos não funcionam. Pais que batem em seus filhos do sexo masculino em casa apenas produzem meninos obedientes que chegam à escola prontos para usar a agressão física contra os seus pares.
Um relatório da Associação Americana de Psicologia demonstrou que a adoção de políticas de tolerância zero nas escolas não mudou o comportamento dos meninos, apenas os distanciou das mesmas. Punir os meninos constantemente retirando seus intervalos ou proibindo os seus jogos, também não funciona. Forçar os garotos a sempre cooperar e nunca competir em aula apenas os faz sentir que a escola não foi feita para eles. Se os meninos se sentem cronicamente mal compreendidos, se sofrem interferências constantes em sua forma de brincar, eles simplesmente seguem seu caminho, desistindo da escola ou se alienando dos valores do mundo adulto. Eles passam a procurar, fora da escola, experiências significativas para a afirmação de si mesmos como garotos fortes e homens saudáveis. Para muitos garotos isso significa idolatrar o líder da gangue local, o atleta popular embora anti-social, o pai abusivo. Minha experiência como psicólogo para uma escola apenas para garotos e como consultor para ambos os tipos – escolas para ambos os gêneros ou somente para meninos – me ensinou algumas importantes lições sobre o que os meninos precisam. Os meninos estão sempre famintos por modelos masculinos responsáveis e por mulheres que realmente “saquem” como eles são. Os meninos estão sempre procurando rotas que os levem a ser homens adultos respeitáveis, admirados por seus professores de ambos os sexos. Na infância, os meninos choram mais e são mais vulneráveis a perturbações em seu elo com as mães do que as meninas. Muitos deles expressam ansiedade através da raiva e do distanciamento. Precisamos compreender que a raiva dos meninos pequenos é, frequentemente, uma manifestação de medo e ansiedade.
No nível Fundamental, nas escolas, precisamos compreender que os meninos são extraordinariamente suscetíveis à vergonha. O arco de desenvolvimento dos meninos é diferente – e mais lento – do que o arco das meninas. Não devemos comparar constantemente os meninos, desfavoravelmente a estes, com as meninas ou fazer do comportamento destas o padrão ouro das escolas. Durante toda a infância, precisamos que os homens apresentem comportamentos que sirvam de modelo para os meninos como cuidadores e precisamos oferecer aos garotos a chance de cuidar de crianças mais novas.
Tom Lickona, o autor de Educando para o Caráter, disse que todas as crianças precisam querer o bem, conhecer o bem e praticar o bem. Eu acredito que dar aos meninos a chance de cuidar de crianças mais novas – praticando o bem – pode ser o mais importante passo individual no sentido de auxiliá-los no desenvolvimento da empatia. Se nós percebemos os rapazes adolescentes como sendo perigosos ou molestadores em potencial, se nós só damos a eles válvulas de escape competitivas, nunca estaremos lhes oferecendo a chance de desenvolverem sua empatia em potencial. Finalmente, na adolescência devemos ir ao encontro dos anseios morais e espirituais dos garotos. Se há uma lição para ser aprendida nas atividades violentas, terroristas de rapazes em todo o mundo, é a de que homens jovens estão sempre em busca de significado, mesmo que de formas terríveis. Se nós traumatizarmos os meninos, iremos produzir homens violentos. Se não oferecermos aos rapazes rituais significativos que façam sua passagem da meninice à vida adulta, eles inventarão suas próprias e cruéis formas de iniciação. Se apenas procurarmos controlá-los e não nos comunicarmos com suas almas, eles nos retribuirão com violência. Os meninos precisam experienciar a empatia quando são jovens, eles precisam aprender a reconhecer um comportamento empático e precisam praticá-lo.
A antropóloga Margaret Mead uma vez expressou sua admiração pelas sociedades que criam seus filhos para serem “bons pais”. Eu concordo com ela. Se nós continuarmos perseverando no objetivo de criar bons pais, os melhores instintos dos meninos serão transmitidos de geração para geração.

Publicado originalmente no Huffington Post em 3 de março de 2010. http://www.huffingtonpost.com/michael-thompson-phd/the-empathic-civilization_b_483068.html

Site do autor: http://www.michaelthompson-phd.com/