segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Amar a Barbie

Depois de anos torcendo o nariz para as bonecas Barbie recentemente vivi meu momento “I love Barbie” e foi muito sincero. A bonequinha – ou pelo menos uma de suas versões – ganhou meu coração. Quem me viu e quem me vê.

A Barbie deve ser a boneca mais amada e a mais odiada do planeta. A absoluta maioria das meninas a ama e projeta nela seus sonhos de ser uma mulher adulta, lindíssima, louríssima e poderosa. Não sendo nenhuma super-heroína, fica claro que seu poder emana da beleza e do dinheiro que a boneca ostenta, ou seja, o sonho de toda e qualquer mulher nos dias que correm, onde a visão de liberdade talvez seja mais cínica e, precisamente por isso, bastante pragmática. Beleza e dinheiro oferecem, sim, um tipo de liberdade a qual poucas mulheres têm acesso. Isso explica o sucesso da Barbie também entre jovens adultas que, embora não comprem as bonecas, consomem bolsas e sapatos com o perfil da marca estampado. A logo de um sonho materialista de poder feminino.

Mas a rainha das bonecas na categoria perua também enfrentou muitos detratores ao longo de sua glamorosa carreira e os petardos contra ela não são leves. Um pouco de reflexão por parte dos pais se faz necessária. Há estudos afirmando que a imagem de perfeição projetada pela boneca prejudica a auto imagem das meninas, colocando-as em risco ao buscarem um ideal de feminilidade impossível de ser alcançado. Suas roupas são muitas vezes inapropriadas, sua apresentação excessivamente sexualizada e o apelo ao consumo é constante nos acessórios e brinquedos que acompanham a boneca. Atento às críticas, o fabricante lançou linhas onde a apresenta como uma bem sucedida profissional adulta (Barbie arquiteta, por exemplo) que possivelmente trabalha para seu sustento, adequadamente trajada. Lançou filmes também, nos quais ela geralmente é uma boa moça que se torna a heroína defensora dos mais fracos. Nem por isso o modelo “casamento dos sonhos” com o parrudo (e “carrãozudo”) Ken foi retirado de circulação. Amor perfeito também faz parte do pacote da mulher bem sucedida. Estão aí as revistas femininas para comprovar que pouca pressão é bobagem na construção do ideal de mulher da contemporaneidade.

Mas como é que fui me afeiçoar pela Barbie, então? Aconteceu na abertura do filme Vida de Sereia, no qual a bonequinha é surfista. Depois de uma noite e um dia inteiro de febre, apatia e irritação, eis que a filha se ergue de um salto colocando-se em pé no sofá onde esteve deitada com a cabeça no meu colo, abre os braços e se equilibra em sua prancha de surfe imaginária, cantando empolgadamente – e imaginariamente no que tange à letra em inglês – a música da cena. Ela dança, ela ginga, balança os cabelos ao sabor de um suposto vento, os olhos grudados na televisão. Canta e vive a cena até o final, quando então se deita novamente, sorrindo. Se alguém mais estivesse na sala teria ouvido essa mãe murmurar “eu te amo, Barbie”, de todo o coração.