sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Vestido de noiva?

Concordo com a Nina Lemos, que assina o divertido e sagaz blog “02 Neurônio” e uma coluna na Folha de São Paulo: o cartunista Laerte é um dos caras mais livres deste país. Para quem não sabe, Laerte, gênio (mesmo!) dos quadrinhos brasileiros, está empreendendo uma jornada como cross-dresser, atividade em que um homem ou uma mulher se veste como o sexo oposto. É claro que muita gente está pensando que o cartunista endoidou de vez ou “virou” gay. Não é o caso, embora ambas alternativas sejam direito dele, bem como a de se vestir de mulher, se assim o quiser. Ele admite que está passando por uma crise existencial, fala aberta e tranquilamente sobre isso como só os lúcidos sabem fazer e afirma: “Estou no completo controle de minhas faculdades mentais.”
O fato é que Laerte, vestido de mulher, prestou um favor a todas nós ao difundir suas impressões sobre o vestuário feminino. Ele fez descobertas interessantes sobre a vivência das mulheres ao se vestirem na nossa sociedade, verdades alheias ao conhecimento dos homens que nos cercam, como a de que é preciso gastar muito mais tempo e dinheiro em cabeleireiro, manicure e na escolha do próprio vestuário feminino em si, embora, por outro lado, as opções sejam muitas, mais interessantes e divertidas do que as do vestuário masculino. E essas declarações do Laerte, que eu prontamente imprimi e dei para o marido ler, colocaram minha imaginação em órbita. Não pude parar de pensar, durante dias, quando via os homens que conheço (e alguns que desconheço): se este homem parado na minha frente agora fosse se vestir de mulher com seriedade (não de forma carnavalesca) durante uma semana, como será que ele se sairia?
Será que teria preocupação em disfarçar sua barriga? Faria o gênero perua, elevando sua vaidade ao cubo diante de tantas possibilidades? Vestir-se-ia formalmente, terninho de trabalho com riscas de giz, embora calçando um sapato preto brilhante de salto altíssimo? Bancaria o estilo bohemian, optando por vestidões e colares? Será que a natureza de um homem se modificaria na experiência de vestir-se de mulher ou, na verdade, se revelaria? Acredito na segunda opção. Posso imaginar os extremamente organizados arrumando o guarda-roupa com exasperação porque há peças que não combinam com outras, escolhendo cuidadosamente o que irão vestir no dia seguinte e separando as roupas de forma a não amassarem. Haveria os que usariam todas as cores, estampas e tamanhos ao mesmo tempo, sem nenhum critério, apenas pelo deleite de sair da mesmice, desejo represado. E os criativos mas desorganizados, que nunca encontrariam nada no roupeiro por falta de planejamento e viveriam atrasados para seus compromissos. Chegando ao escritório, diriam ao colega ao lado, na mesa de reuniões: “Cara, não tenho nada para vestir!”
E se numa cerimônia de casamento envolvendo vestuário tradicional os papéis se invertessem e seu marido tivesse que escolher o vestido de noiva, que modelo seria do agrado dele? Suspeito que as longas caudas sairiam de moda e os arranjos de cabelo pinicantes também. Talvez as barras dos vestidos subissem. Não sei se o branco permaneceria como cor predominante.
Mas de uma coisa eu tenho certeza: se homens usassem meia-calça, dessas que desfiam por qualquer coisinha, as cadeiras e mesas do local onde você trabalha seriam todas lisinhas e a indústria das “meias-que-puxam-fio” já teriam sofrido muitos processos judiciais por venda de produto com padrão aquém do aceitável!