terça-feira, 8 de março de 2011

Tempo de Pensar Mal

Incomodada não ficava só a nossa avó, coisa nenhuma. A tensão pré menstrual, chamada TPM, conjuntamente com a menstruação propriamente dita, é uma prova mensal incontestável de que as mulheres e os homens são seres muito diferentes e vivenciam o mundo com base em experiências distintas. Claro que há tantas TPMs quanto há mulheres, nenhuma é idêntica. E é evidente, também, que nossa paciência para piadinhas acerca do assunto tem seus limites, como deve ter limites para os homens a paciência com piadinhas relativas ao exame da próstata. Ri-se na primeira, questiona-se seriamente sobre a possibilidade de ir embora na quinta (Eu, na terceira. Minto. Na segunda.).

Basicamente, a título de generalização hipotética, talvez se possa classificar as TPMs em três tipos. O primeiro seria o agressivo, aquele em que temos raiva das pessoas, pouquíssima paciência para o que não sai precisamente do nosso agrado (e algo sai, nesse período?) e atacamos inclusive a nós mesmas, vendo defeitos monstruosos nos nossos corpos inchados, nas nossas olheiras resultantes do sono agitado por culpa dos hormônios em ebulição e em quase tudo o que fazemos. O segundo seria o tipo sensível, que não necessariamente quer matar ninguém, mas sente como uma agressão qualquer comentário que não seja elogioso. Em casos extremos os comentários elogiosos podem ser compreendidos como ironia. Tendemos às lágrimas, lamentamos nossas escolhas de vida e por vezes acreditamos, sinceramente, que somos um caso perdido.

O terceiro tipo é o que eu chamo de “pensar mal”. Em que pese a presença de certa impaciência e uma sensibilidade um pouco exacerbada, o principal sintoma está no pensamento que vai sempre na pior direção possível. O filho está chegando de viagem e se atrasou? Deve estar envolvido num desastre rodoviário de grandes proporções. Estamos elaborando um projeto novo? Está fadado ao fracasso. Resultados de exames de saúde são abertos com grande ansiedade e lidos procurando-se números perigosos, sem cabeça para comemorar os números bons. Esperamos o pior. O que puder dar errado – ou seja, tudo – dará. Não interessa qual seja a área, o pensamento sempre toma um rumo ruim e parecemos inábeis para controlá-lo, impedir que crie problemas em nossas vidas pela ansiedade de já os experimentarmos em nosso imaginário.

Sei que há mulheres que não experimentam quase nenhum desconforto em termos de TPM e outras que misturam os sintomas acima descritos, sem contar aquelas que sentem dor, muita dor física. Seja como for, para a maioria de nós esse é um mau momento para se tomar grandes decisões e realizar julgamentos definitivos, principalmente sobre questões de nossa intimidade. Durante a menstruação deveríamos ter o direito de nos recolhermos como as mulheres de tempos muito antigos, não por qualquer tipo de impureza absurda que nos fosse imputada, mas para nosso conforto e por carinho conosco mesmas. Deveríamos celebrar nossa saúde e fazer massagens e escalda pés. Compreendo que nossa sociedade, organizada em torno do mundo do trabalho, não comporta tamanho “luxo”. Aliás, não comporta muito bem nem a existência do mênstruo. Conheci faxineiras que me disseram ouvir reclamações por irem muitas vezes ao banheiro trocar o absorvente.

Mas será que não poderíamos ao menos anunciar aos mais próximos, “olha, estou em período pré menstrual, tenho dor, inchaço, pessimismo e quem avisa amigo é”? Ou, pelo menos, algo do gênero “hoje é meu primeiro dia de menstruação e tendo a ficar sentada, ok?”. Diríamos isso sem ser tachadas de incompetentes e sem causar escândalo, que tal? Não? Ah, é que esse assunto é tabu e não pode ser comentado fora dos toaletes a não ser sob a forma de piada. Esqueci. Peço desculpas. Talvez meus pensamentos estejam conturbados.