terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Férias de verão

Ah, dizem todos, chegaram as tão esperadas férias de verão! Iremos descansar, não teremos aulas e sim lindos e longos dias de sol, as crianças brincarão, os cachorros passearão, pegaremos uma cor, caminharemos para emagrecer. Tomaremos sorvetes, iremos à piscina, organizaremos a casa, colocaremos o sono e a vida em dia. Nossa saúde será poupada das intempéries do frio e até para tomarmos banho estaremos mais bem dispostos. Mesmo quem trabalha em janeiro e fevereiro acha que vai levar uma vida mais tranqüila e aguarda de bom humor a chegada do calor que convida a passear depois do trabalho – diferentemente do frio, que remete todos de volta à “toca” a zelar por suas vidas.

É o que todo mundo acha quando começa o verão. Ou na primeira semana do verão. Depois os humores começam a se modificar, sutilmente a princípio, desbragadamente quando o mau humor se instala. Está quente demais. Não dá para sair nesse sol, que está “pelando”. O clube está muito cheio e não se sabe se as crianças não fizeram xixi na água. A pele descascou, ou não bronzeou como se desejava, ou bronzeou e o medo do envelhecimento precoce tomou conta e trouxe a culpa. O corpo não está no formato que se desejava (como pena o pobre corpo, sempre objeto de aversão) e colocar sunga ou biquíni resultou numa experiência bem menos excitante do que se esperava. Há pernilongos à noite e o calor não deixa ninguém dormir bem. O uso do ar condicionado pode ter causado um resfriado ou crise de rinite. O mormaço baixa a pressão e tira a vontade de caminhar ou passear. A cidade está vazia e as vendas não são boas. Não anoitece nunca e as crianças se tornam birrentas. O tédio se instalou e alguns sentem falta das aulas ou do trabalho, de saber o que fazer do tempo, basicamente. Outros sentem falta da vida social que possuem nesses círculos.

Ai, ai, as expectativas de vida perfeita, como elas nos limitam. Nada, mas nada mesmo, sai exatamente como se imaginou. Mas das coisas sobre as quais não temos controle (já reparou que é praticamente nossa vida toda?), o tempo meteorológico é dos que mais testa a capacidade de suportar frustração de parte dos humanos. Acima dele só o tempo cronológico, contra o qual travamos lutas tolas. Há os que odeiam o verão, há os que odeiam o inverno.

O Verão e o Inverno, juntamente com a Primavera das Rinites e o Outono dos Resfriados, parecem desconhecer solenemente nossas expectativas e desilusões. Marcham ao compasso imposto pelo tempo cronológico, misturam-se por vezes num dia só e cabe a nós, solitariamente conscientes de nossa existência e da deles, achar resignação, audácia, beleza e propósito em nossos dias, faça chuva ou faça sol.