quarta-feira, 17 de março de 2010

Dos Príncipes Encantados

Depois de anos de muita leitura e discursos sobre os direitos das mulheres, de incontáveis noites em mesa de bar debatendo a igualdade entre os sexos e de arranca-rabos com homens, mulheres, a mãe do Badanha e a própria mãe, é chato assumir que eu gosto dos príncipes da Disney. Mas uma filha pequena te descortina toda uma nova identidade que, na verdade, nada mais é do que a sua mesmo, partes dela, que você andava evitando. Pois é, eu sou encantada pelo príncipe da Branca de Neve. Aquele mesmo, do cavalo branco, do castelo no horizonte, que acorda a meiga princesa com um beijo. Ou seja, parece que um homem com uma boa casa, um bom carro e habilidades sedutoras continua em alta, embora também tenhamos desenvolvido condições próprias de adquirir os bens materiais e há muito deixado de ser acanhadas nos jogos de sedução. Mas Darwin explica essa atração. Para completar, o tal príncipe-sem-nome canta divinamente, um talento que, acredito que concordaria o cientista, ajuda no êxito reprodutor.

O segundo príncipe encantador da Disney tem um belo nome e é homem para ninguém botar defeito. Felipe, na versão da Bela Adormecida, também tem palácio própria e montaria, mas desobedece ao pai, manda na própria vida, escolhe a moça que lhe interessa, luta contra uma bruxa, um dragão e ainda tem fôlego para subir saltitante uma escadaria onde lhe espera a donzela a ser acordada com um beijo. Cantar e dançar também faz parte de seu repertório cool de sedução. É disparado o melhor príncipe da franquia Princesas. Freud explica que se caia de amores por ele. Já o pior é, sem dúvida, o da Cinderela. Assisti ao segundo filme, no qual se procurou dar uma voz ativa à protagonista, mas o príncipe permaneceu como estava. Vivendo no castelo do pai, sob suas estritas ordens e nada fazendo para ajudar a moça em suas aflições, alheio às suas necessidades pessoais. Lembremos-nos que no primeiro filme ele inclusive correu o risco de se casar com qualquer outra que tivesse conseguido calçar o tal sapatinho. Enfim, um banana. Esse ninguém explica.

Publicado no jornal O Nacional em 07/02/2010